Maricá/RJ,

RUBEM BRAGA (1913-1990) - Um cronista atemporal


Pedro Sprejer 

O centenário do inventor da crônica moderna brasileira foi lembrado na segunda-feira, dia 1º de abril/13, na edição do Prosa nas Livrarias que aconteceu na Travessa do Shopping Leblon. O jornalista e cronista do Globo Joaquim Ferreira dos Santos e o escritor, crítico e colunista do “Prosa” José Castello debateram a obra, a vida e o legado de Rubem Braga, em mesa com mediação do jornalista Mauro Ventura, também do Globo. Durante o evento, a editora Record lançou quatro livros, entre eles a reedição de Na cobertura de Braga, de Castello.

Curador da exposição “Rubem Braga: Fazendeiro do Ar” – atualmente em Vitória – Joaquim Ferreira dos Santos acredita que a obra do cronista influenciou toda uma geração de leitores, que, como ele, leram Braga até se fartar:

“Diria que ele não foi uma escola só para os jornalistas, mas para uma cidade toda. Rubem pega o legado da crônica e formata uma prosa poética, com um humor que vem dos modernistas. É um texto de bermuda, leve, que flui, mas sem perder a profundidade”.

“Temas universais”

Entre os lançamentos da noite, uma edição de luxo para “200 crônicas escolhidas”, maior sucesso comercial de Braga, que contém a fina flor de suas crônicas, selecionadas pelo próprio. Estão lá os passarinhos, as miudezas do cotidiano, as lembranças de menino e as impressões de flaneur – temas “menores” que se tornaram memoráveis na pena do Pelé da crônica.

Em Na cobertura de Rubem Braga, Castello compôs o que resumiu como “uma crônica sobre o cronista”. O livro traça um panorama da obra do autor, que assinou mais de 15 mil crônicas, foi correspondente de guerra e cultivou em sua cobertura em Ipanema um bosque que lhe valeu o epíteto “Fazendeiro do Ar”.

“Ele consolidou o gênero e lhe deu feições definitivas. Rubem Braga é o grande mestre desse gênero limítrofe que oscila entre a ficção e a verdade”, diz Castello.

Em Retratos parisienses – uma inédita compilação feita por Augusto Massi sobre o trabalho de Braga como correspondente do jornal “Correio da Manhã” na França, entre 1949 e 1952 – o leitor pode conhecer outra de suas facetas. Ao lado do amante das sutilezas aparece um intelectual interessado em arte, cinema e literatura, desbravando a fulgurante vida cultural da Paris de Sartre e Picasso.

Livro ilustrado infantil elaborado a partir de uma crônica de Braga, “O menino e o tuim” foi mais um dos relançamentos da noite, com novas ilustrações, de Maurício Veneza.

Mauro Ventura acredita que a obra de Braga pode ser uma porta de entrada para os jovens ingressarem no mundo da leitura. Foi o seu caso, ele conta, quando o pai lhe mostrou a clássica crônica “Aula de inglês”. Para ele, o legado do Velho Braga permanece atual:

“Por mais que os textos tenham características da época, eles são atemporais, pois os temas são universais. Como, por exemplo, um homem mais velho que diz que um muro frio e triste se levantou de repente quando uma jovem o chamou de senhor”.

Pedro Sprejer, do Globo,em 02/04/2013 na edição 740.
(Reproduzido do suplemento “Prosa&Verso” do Globo, de 30/3/2013)

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