Maricá/RJ,

Leituras


LEITURA, SABER E PODER.

Luiz Lyrio


Na antiguidade, somente um grupo seleto que servia os interesses dos poderosos sabia ler. O acesso à leitura e ao saber era privilégio de poucos, enquanto a imensa maioria da população, analfabeta e ignorante, era presa fácil da manipulação das elites.
Passados seis milênios de Civilização, o saber ler democratizou-se e acabou tornando-se habilidade também das ditas “classes inferiores”. Num primeiro momento, o acesso à leitura pelos dominados trouxe grandes prejuízos para os donos do poder. As “classes inferiores” passaram não só a absorver, como também a produzir saber. Desvendando a crueldade do jogo sórdido que os condenava à miséria e à submissão, os intelectuais provenientes ou solidários às classes exploradas passaram a idealizar modelos de sociedade totalmente divorciados dos interesses dos grupos dominantes.

Entretanto, após um período historicamente efervescente, marcado por guerras “quentes” e “frias” entre ideologias que confrontavam os interesses antagônicos de dominantes e dominados, os detentores do capital obtiveram vitórias significativas. Donos, agora, de um poder globalizado e tendo em suas mãos armas bem mais destrutivas e formas bem mais complexas de controle da mente humana, as elites dominantes do século XXI passaram, então, a não se descuidar de nada, quando se trata de garantir sua hegemonia no mundo. E, além de massacres desnecessários com o único objetivo de aterrorizar quem pensar em se contrapor a eles, os donos do mundo do século XXI aperfeiçoaram formas terríveis e avassaladores de robotização do ser humano.

Hoje, uma das formas de engessamento da mente humana, é as regras impostas “para uma boa comunicação escrita”. De repente, somente textos curtos comunicam. Textos longos são considerados cansativos. Com o sucateamento do sistema de ensino destinado às “classes inferiores”, aliado aos poderes hipnóticos e subliminares da televisão e do computador, hoje, a imensa maioria das pessoas se divide em analfabetos funcionais - incapazes de interpretar o que lêem - e de semi-analfabetos por opção, que são aqueles que, ao verem um texto mais longo, partem a procura de mensagens sucintas, gravuras ou fotos.

Estamos todos submetidos à ditadura da objetividade. A enxurrada de textos curtos e objetivos ampliou, nos últimos anos, o imenso exército de criaturas humanas com conhecimento precário e superficial da realidade, e, o pior, qualitativamente desinformado.

Como não se consegue abordar responsavelmente nenhum assunto sério com poucas palavras, textos “enxutos” são secos demais. Não é à-toa que os grandes problemas do mundo atual, quando seriamente abordados, dão origem a longos tratados. Quando se quer julgar alguém que cometeu um crime, consomem-se páginas e páginas nos processos. E ninguém se forma na faculdade lendo “textículos” e folheando livros especializados, em busca de gravuras. Há um quase consenso na sociedade de que quem vai exercer qualquer tipo de poder tem que ter lido e estudado muito. Já quem está destinado a obedecer.

A leitura, como no passado, voltou a ser privilégio de um seleto grupo que serve aos poderosos. E, hoje, quem controla o poder, muitas vezes por trás dos bastidores, são assíduos leitores de tratados extensos. Alguns deles, dotados de talentos especiais, são verdadeiros mestres na elaboração de textos curtos e objetivos, que visam manipular um numeroso e acomodado rebanho, formado por analfabetos funcionais ou por pessoas que, simplesmente, "não gostam de ler".

Luiz Lyrio – professor e escritor.
Contatos:
www.lyr.myblog.com.br ou revistalo@yahoo.com.br

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