Maricá/RJ,

O FEIJÃO E A CHAVE

Sentada a mesa da cozinha a vovó descascava e cortava maçãs em pedacinhos, colocando-os dentro de uma tigelinha, preparando o que seu netinho chamava de “pipocas de maçã”. Repentinamente, com um sorriso muito maroto, o menino entrou na cozinha, encostou na mesa e, sem prestar a menor atenção ao que a avó fazia, disse:
- Vovó, eu já plantei a chave!
- ???. Que chave, meu filho?
- A chave vovó, a da casa do vovô, explicou o menino.
- Como ? Vovó não está entendendo. Pra que?
- Vovó, eu plantei o feijão mágico com o vovô e ele subiu e foi morar no céu pra ajudar Papai do Céu não foi? Então, eu plantei outro feijão com a chave porque assim, quando o feijão “chega” lá no céu, o vovô pega a chave e desce. É pra ele voltar logo.
Pega de surpresa, a vovó emocionou-se e sentiu as lágrimas chegarem aos olhos. Fazia três meses que o vovô não estava mais ali. Deixando de lado as maçãs, conteve as lágrimas, sentou o menino em seu colo e falou:
- Presta atenção, meu bem. Os feijões que você plantou com o vovô eram feijões mágicos que cresciam rápido durante o sonho. Esse, que você plantou agora com a chave, não é mágico, querido, é comum e cresce devagar, não chega até o céu.
- É sim, vovó. Eu falei com ele pra “sê” mágico e ele me “bedece”.
- Está certo, mas, mesmo que ele seja mágico e leve a chave até o céu o vovô não vai voltar. O céu é muito grandão, não tem como ele encontrar a chave. Depois, ele nem sabe que você plantou a chave.
- Sabe sim, vó. Eu falei pra ele “de segredo”.
- Mesmo ele sabendo, meu menino, Papai do Céu está precisando dele e não vai deixar ele descer.
- Vó, Papai do Céu não escuta as crianças quando “fala” com Ele? Então, eu “vô pidi” pra Ele. 
Sentindo que estava cada vez mais difícil explicar, a vovó disse ao garoto:
- Meu amor, não adianta pedir porque Ele é que sabe o que é melhor pra todo mundo. Se Papai do Céu acha que o melhor pro vovô é ficar lá, morando com Ele, é lá que o vovô vai ficar. O vovô é muito bonzinho e Papai do Céu quer que ele fique no céu vendo a gente de lá. Faz o seguinte, pede ao Papai do Céu pra cuidar muito bem do vovô. 
O menino, sem dizer nada, foi sentar-se no jardim e ficou por lá, junto com os cachorros, brincando e pensando. Cerca de meia hora depois a vovó, já mais refeita, chamou-o para comer as “pipocas de maçã”. Sério, um tanto pensativo, ele veio, sentou-se na cadeira, encostou a cabeça sobre os braços dobrados na mesa e disparou:
- Vó, meu vovô morreu.
- Por que você acha que ele morreu?
- Ora vovó, eu “tava” pensando, se vovô foi pro céu morar com Papai do Céu e nem se eu pedir ele não volta, nem com a chave. Se Papai do Céu não deixa ele vir nem pra brincar comigo é porque meu vovô morreu.
- É verdade, meu bem, vovô morreu sim e foi pro céu.
- Eu sinto muita falta do meu vovô....
- Eu também, meu amor. Eu também, disse a vovó escondendo uma lágrima no canto dos olhos... 

                                                                                              Nádia Chaia (Sidewí)
 Maricá, julho de 2012.


"Transcrição da Avó Nádia Chaia; o autor Gabriel, tem 4 anos".

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